MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
Por Daniel
Santos
"JUNTO aos rios de Babilônia nos assentamos e choramos,
lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros, que há no meio dela, penduramos as
nossas harpas. Porquanto aqueles que nos levaram cativos, nos pediam uma
canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos um
dos cânticos de Sião. Mas como entoaremos o cântico do SENHOR em terra
estranha?
Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha destra
da sua destreza. Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se
não preferir Jerusalém à minha maior alegria. Lembra-te, SENHOR, dos filhos de
Edom no dia de Jerusalém, porque diziam: Arrasai-a, arrasai-a até aos seus
alicerces. Ah! filha de Babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te
retribuir consoante nos fizeste a nós. Feliz aquele que pegar em teus filhos e
der com eles nas pedras"
(Salmo
137 – ARA)
Fase
preparatória: Contexto – texto – delimitação – estrutura – segmentos
Conhecida
como a metrópole dourada, a grande Babilônia foi como um pano de fundo para que
esse salmo fosse registrado.
Plantada
em uma região fértil, Babilônia ocupou os territórios da Mesopotâmia que vai de
Hit e Samaria (Norte de Bagdá) até o Golfo Pérsico. E foi justamente nessa
terra que emanou o poderoso império de Nabucodonosor. (Claudionor Andrade-1955)
Para
que se cumprisse a palavra do Senhor proferida pela boca do profeta Isaías,
(“Eis que vêm dias em que tudo quanto houver em tua casa, e o que entesouraram
teus pais até ao dia de hoje, será levado a Babilônia; não ficará coisa alguma,
disse o SENHOR” 2 Reis 20.17) do ano de 597 a. C. a 586 a. C. Judá sofre o
cativeiro babilônico. (Edição Revista e Corrigida 2009) Quanto ao escritor
deste texto, não se sabe com precisão, há apenas deduções. No entanto de uma
coisa temos certeza; os rios (Eufrates e Tigre) da Babilônia foram testemunhas
deste derramar de lágrimas.
Semiótica:
Estudo semântico (Estudo do significado das palavras).
De acordo com a lamentação do salmista, destacamos quatro
expressões chave que externam uma das possíveis linhas interpretativas no que
concerne a este texto;
●
Junto aos rios da Babilônia
A
promessa a Abraão era que a sua descendência habitasse em uma terra dada por
Deus. Estar junto aos rios da Babilônia e não junto ao Rio Jordão é a maneira
mais categórica de expor a dor de um patriota quebrantado. E é justamente o que
essa expressão significa: motivo para não cantar.
●
Penduramos as nossas harpas.
O
sentimento de revolta que os levou a pendurar as suas harpas no Salgueiro
emergiu de uma mentalidade presa ao seu passado.
●
Jerusalém, a maior alegria.
A
única alegria que poderia fazer com que Judá voltasse a cantar seria estar fisicamente
em Sião, e não em terra estranha.
●
Felicidade em bater a cabeça dos filhos do adversário nas pedras.
No
entanto o salmista conclui sua lamentação enaltecendo uma “alegria” estranha,
uma felicidade abastecida pela vingança.
Discurso:
Dimensão teológica, social e psicológica da ação.
Diante
de tais significados, é importante que relacionemos aos demais pontos das
escrituras;
1. Dimensão
teológica
Judá
se encontrava totalmente abalado com esta radical mudança.
Espiritualmente,
não se via nenhum Mar Vermelho se abrindo em sua frente, mas o ápice da
idolatria e tudo aquilo que o seu Deus abominava.
Com
esse cativeiro a vida espiritual do povo de Deus sofre drásticas alterações; o
privilégio de ter um templo, oferecer ofertas e sacrifícios, participar das
memoráveis festas e exercer o ministério sacerdotal ficou no passado.
2. Dimensão
psicológica
Mesmo
jurando que jamais esqueceriam de Jerusalém, as harpas continuavam no
Salgueiro, representando uma vida presa ao passado, porém os lampejos de
esperança (provenientes do Espírito Santo) permeavam em alguns corações. A
alegria, o tocar de instrumentos e os cânticos que os babilônios requeriam
foram substituídos pelo assentar, (apatia) pelo choro (tristeza) e pela a mais
amarga sede de vingança.
Outro
ponto que temos que levar em consideração é a sutileza do salmo em nos
apresentar a discrepante ideia de felicidade: alegria em estar em Sião
(Jerusalém, a maior alegria) e o prazer pela vingança (felicidade em bater a
cabeça das crianças em pedras). Entendemos que por um momento o salmista
almejava a sua terra, mas psicologicamente, não estava preparado para a tal
benção.
3. Dimensão
Social
E
pelo que vemos no acontecido, o texto nos informa que o motivo pelo qual os
judeus não cantavam era por não estarem geograficamente, bem posicionados.
Mudar
de país pressupõe: alteração no idioma; sofrer influências culturais;
adaptar-se às políticas trabalhistas, educacionais e comerciais da região.
Aplicação:
Dimensão missional da ação
Embora
os tempos deste salmista forem outros, os princípios continuam vívidos e
válidos para os dias de hoje.
O
nosso Deus não mudou. O nosso Senhor continua estabelecendo alianças; assim como
Deus fez Israel cruzar o Mar Vermelho, selando ali um relacionamento de
parceria com seu povo, Ele continua levantando almas do cativeiro pecaminoso
para herdar uma terra eternal.
Neste
plano redentivo, a obediência à palavra de Deus é um dos recursos mais
importantes para que não soframos certos prejuízos. O desprezo aos princípios
de Deus tende a nos levar a lugares impróprios, à tristezas profundas, frieza
espiritual e muitas vezes ao ódio pelos que nos atingem.
Temos
a consciência que nesse cativeiro, soberanamente, Deus atacou profundamente a
idolatria que manchava esse povo, mas não quer dizer que devamos provocá-lo a
fim sermos libertos. O que de fato o Senhor quer nos ensinar através dessa árdua experiência é que venhamos a nos render às escrituras para que possamos
ser edificados mais e mais.
Agora,
se porventura você estiver passando por provas (não provocadas) o conselho do
Senhor é: não pendure a sua harpa no Salgueiro! A instrumentalidade da igreja é
por si só, meio de salvar vidas, acalentar corações doridos e libertar almas
atormentadas.
Que
o Senhor nosso Deus possa fazer de nossas vidas, servos fiéis, atentos aos seus
intentos e praticantes dos seus atos de justiça.
Que
Deus nos abençoe!
Referências:
ANDRADE,
Claudionor Corrêa de, Geografia Bíblica. 1955. Rio de Janeiro, p.26 CPAD, 1987.
ALMEIDA,
João Ferreira de. Bíblia, Antigo e Novo Testamento Edição
Revista
E Corrigida. Santo André – SP, p.206 Editora Central Gospel, 2009.
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