COVID-19 E SUAS IMPLICAÇÕES NO SEIO RELIGIOSO

Por Daniel Santos

No dia 22 de abril, foi realizado o Culto Ecumênico transmitido pelo Colégio Militar de Campo Grande (MS) aos pais e alunos. A transmissão contou com apresentações do Capelão Evangélico Major Ednaldo da Costa Pereira, do Capelão Católico, Padre Daniel Francisco de Sousa e o Representante Espírita, Tenente Emílio Silveira de Souza. (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2020, on-Line).

Quem teve o privilégio de ter nascido ou até mesmo de ter sido criado em um lar evangélico (conservador) sabe o quanto um culto dessa ordem chocaria os nossos pais. Por outro lado, já se perguntou como pode um inimigo que não se intimida com muros altos, cercas elétricas e para piorar, é imperceptível aos olhos de quem deveria garantir a segurança, como: policiais, câmeras de monitoramento e cães de guarda?

Pois bem, o homem de nossos dias sente-se encurralado diante dessa pandemia, onde a sua letalidade atinge ricos, pobres, famosos, mendigos, crentes, ateus, etc. A recepção e o enfrentamento desta triste realidade teve como prioridade o isolamento social, no entanto, a notícia acima relata um fenômeno relativamente incomum; fenômeno este que nos permite, ironicamente, nomeá-lo de: “união espiritual”.

Eventos como este serviram para mostrar que o temor de perder familiares, amigos e a própria vida ultrapassa facilmente as “paredes das convicções”, principalmente as de linha religiosa. Embora seja apenas um culto de caráter intercessório, e não um encontro regido por intenções proselitistas, a reunião deu margem para o que Carson definiu como pluralismo religioso radical (CARSON, 20013, p.26) “essa posição, sob o impacto direto do pluralismo filosófico, sustenta que nenhuma religião pode fazer qualquer reivindicação legítima de superioridade sobre qualquer outra religião”. (Sempre que alguma religião (salvo a religião do pluralismo) se arvora em algum detalhe como certa ou superior e, por conseguinte, sustenta que as outras religiões estão erradas ou são inferiores, isso é necessariamente um erro). 

E de acordo com Lipovetsky (Unicesumar, 2017, p. 101) "há uma outra dinâmica de sociabilidade na pós-modernidade. O indivíduo não tem suas referências nas instituições identitárias fixas da modernidade, como partido político, sindicato, classe, gênero (Gilles Lipovetsky). Em outras palavras: não têm referências porque para o indivíduo pós moderno as águas da conveniência as umedeceram, e em muitos casos dissolveram completamente "suas bases". Por mais que a flexibilidade nas relações não obrigue o indivíduo a negociar valores, é bom que este indivíduo esteja ciente que a acessibilidade não o obriga a banalizar as sãs convicções. Não sabemos o nível de afinidade do Capelão Evangélico para com os princípios e limites do cristão moderno; mas de uma coisa temos certeza, a sua participação neste culto só foi possível porque ele está inserido em uma sociedade onde as circunstâncias (transitória) tomaram o lugar de alguns conceitos (estático). Quanto ao Capelão Católico e o Representante Espírita, é bem possível que não houve barreiras; mesmo porque, "culturalmente", pelo menos aqui no Brasil, essas duas religiões são mais flexíveis no tocante aos eventos de ordem ecumênicas.

Levando-se em consideração esses aspectos, a teologia bíblica, segundo Paulo, nos conduz ao seguinte princípio: "Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio" (At. 17:23 - ARC). Ao relatar o pano de fundo desse magnífico discurso Don Richardson afirma (RICHARDSON, 1995, p.18). “Jesus Cristo fornecera a Paulo uma fórmula-mestra para enfrentar problemas de comunicação transcultural como o de Atenas”. Por isso que ciente da experiência de Epimênedes, o apóstolo segurou a atenção deles endossando alguns pontos que eram cridos pelos presentes: "Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração." (At. 17:28 – ARC) Portanto a teologia bíblica contemporânea também precisa caminhar no mesmo teor, isto é, interferir sem ferir. Contribuir para com que as almas acorrentadas às meias verdades venham absorver a solidez da mensagem salvífica é necessário que as entendamos (entrar na tenda) e sintamos de fato as suas peculiaridades.

REFERÊNCIAS:

CULTO ECUMÊNICO TRAZ ALENTO AOS PAIS E SEUS FILHOS, ALUNOS DO COLÉGIO MILITAR. Ministério da Defesa - Exército Brasileiro Braço Forte – Mão Amiga, 2020. Disponível em: <http://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/id/11385259>. Acesso em: 26, 08, 2020.

GINI, Sérgio. Teologia e Pós Modernidade. Maringá-Pr: Unicesumar, 2017, p.101.

CARSON, Donald A. O Deus Amordaçado: o cristianismo confronta o pluralismo. São Paulo: Shedd Publicações, 2013, p. 26.

RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque: o testemunho de Deus nas culturas através do mundo. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 18.

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