CULTO RACIONAL



Romanos: 12.1 ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (λογικός).


Muito se fala em culto, sacrifício de louvor e espírito de adoração. Tudo isso deve ao fato de existir o fenômeno religião. Como a religião nasceu?

Citado por Edouard Schure, Fabre d'Olive, levantou a seguinte hipótese:


“Em um clã belicoso, dois guerreiros rivais discutem. Furiosos, eles vão se bater; e já estão atracados, quando uma mulher desgrenhada se atira entre eles e os separa. É a irmã de um deles e esposa do outro. Seus olhos lançam chispas, sua voz tem a tônica do comando. Ela grita com palavras ofegantes, incisivas, que vira na floresta o Ancestral da raça; o guerreiro vitorioso de outrora, o herói lhe aparecera. Ele não quer que dois guerreiros irmãos briguem entre si, mas que se unam contra o inimigo comum. “É a sombra do grande Ancestral, é o herói que me disse — clama a mulher exaltada — ele me falou! Eu vi”! E ela acredita no que diz.

Convencida, ela convence. Emudecidos, assombrados e como que aterrados por uma força invencível, os adversários se dão as mãos, reconciliados, e olham para a mulher inspirada, como se ela fosse uma espécie de divindade”. ¹


Tanto a tensão quanto a revelação, o ídolo, a humilhação e o devoto, são elementos que compõem o culto religioso. E o culto aos ancestrais, pelo que sabemos pela a história primitiva, é, portanto, a base do que se entendia por religião (religio / religare).


Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos…

O apóstolo Paulo, segundo o que percebemos nas escrituras, constrói a teologia cristã a partir do judaísmo helenístico. De modo genial, ele apresentou O Cristo judeu como a revelação precípua do Antigo Testamento. Isso quer dizer que a religião se encerrou no Sacrifício perfeito de Cristo, e o culto, por sua vez, não está preso a um endereço fixo. Ambos acontecem ininterruptamente no corpo místico (igreja invisível) e no corpo físico de cada membro (crente regenerado).

Na súplica paulina (rogo-vos), o desejo do apóstolo, é que os irmãos, debaixo da compaixão de Deus, sejam de fato altares do Deus Altíssimo.


…Em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.

Está na moda e você já deve ter ouvido dos frequentadores de instituições “cristãs”: “estou indo na igreja “A” porque na “B”, eu não me sinto bem. Já que o culto se transformou em programações (clubinho), é natural que os consumidores busquem um local cômodo, mesmo porque estão pagando para isso. E é obrigação do dono ou do chefe da filial, que o culto seja um show inesquecível.

Interessante, é que até as seitas evangélicas, conhecidas por serem organizadas, profundas, sóbrias e exclusivistas, perderam a compostura; estão, de modo sutil, suprindo as demandas do mundo. Não leram a respeito do conformismo mundano de Romanos 12:2 (E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus).


O culto do crente genuíno é vivo, Santo e Agradável a Deus.

Considerando que em Jesus, ninguém morrerá porque Jesus já o fez, devemos optar pela vida absoluta conquistada por Cristo; vivê-la em santidade (mortificação do eu) para agradar somente a Deus. Hoje, infelizmente, o sacrifício vivo dos sistemas religiosos se baseia no ruído, no número de adeptos e na fama do guru que está no poder. A santidade, segundo a massa evangélica, é patrocinar o sistema e seus espertalhões; cumprir os protocolos exigidos e atrair mais incautos. Agradar a Deus, é um outro comportamento que os donos de sistema distorceram. Se sem fé é impossível agradar a Deus, a tua fé na fé deles, automaticamente, agrada a Deus. Em outras palavras, é o mesmo princípio medievalesco, “agradar o sistema é agradar o deus do sistema”.


Nas minhas considerações finais, pretendo trabalhar, de modo sucinto, a questão do culto racional.

O adjetivo “logikós”, expressa a razão divina. Não se trata de esquisitices! Se o culto é do homem para com Deus, quem o recebe, o recebe porque faz sentido para Ele. Um exemplo: se Cristo disse à mulher de Sicar, que chegou o tempo em que não é necessário templos, sacerdotes, levitas (...), e sim uma adoração direta a Deus, sem intermediários, mercenários, líderes, manipuladores e religiosos, porque que eu vou insistir em um culto contrário à razão de Deus?

Deixe-me compartilhar um fato; conheço uma seita, relativamente famosa, que por possuir templos aparentemente belos, os jovens desse lugar, se expõem ao ridículo a fim de se casarem neles. É óbvio que você também tem visto bizarrices dessa natureza ou pior.

A pergunta que te faço é: estás contente com os cultos em que participas; estão te agradando, têm sido racional ou emocional? 


Que Deus nos abençoe! 

  


Por Daniel Santos 



REFERÊNCIAS:

¹ SCHURÉ, Edouard. Os Grandes Iniciados: esboço da história secreta das religiões. Edição Prefaciada, Anotada e Revista pelo Professor Mário Lobo Leal. Tradução de Domingos Guimarães: 1° Tomo; 2ª Ed. Elos Rio, p. 49-50.

Tecnologia do Blogger.