CRISTIANISMO, SISTEMAS E AFINS
João: 5.39 Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.
Em busca de alguma novidade numa determinada plataforma digital, me deparei com um canal cristão, cuja descrição enfatizava a seguinte frase: “Somos uma igreja bíblica”. Eu, curioso em ouvir a pregação do orador, adiantei o vídeo e ao ouvi-lo, notei que tratava-se de mais uma releitura institucional. Compreendo que boa parte das instituições religiosas não faz por mal, aprenderam dessa forma e entendem que a releitura é uma pregação bíblica.
Voltemos ao contexto bíblico…
Jesus estava em mais um diálogo com o sistema religioso de sua época; é a voz poderosa e politicamente aceita do sistema contra a voz solo do nosso Senhor. O sistema abomina a voz de fora, ele o chama de desigrejado.
Continuemos…
Nos versos anteriores, eles o indagaram a respeito de seu comportamento com relação à guarda do sábado e de sua identidade porque Cristo afirmou ser filho de Deus (vs 18). Após uma série de argumentos, o nosso Senhor os convidou (ἐρευνάω = investigai!) a examinar as escrituras, isto é, já que eles são doutores em bíblia, que ajam como tal. Afinal, por que os sistemas religiosos não têm condições de pregar a palavra partindo da própria palavra?
Pretendo, de modo singelo e sucinto, separar a pregação textual das releituras institucionais. E para isso, não há nada mais didático do que o exemplo.
O texto ilustrativo é o de Marcos, capítulo 14, verso 43: “E logo, falando ele ainda, veio Judas, que era um dos doze, da parte dos principais dos sacerdotes, e dos escribas e dos anciãos, e com ele uma grande multidão com espadas e varapaus”.
Tente imaginar o cenário:
Personagens: Judas, Religiosos e a Multidão.
Período: Entre a Traição e a Prisão de Jesus.
Judas…
Judas, pelo que percebemos, é uma espécie de mediador; ele transita livremente nos dois territórios. É aquele crente que tem consciência do erro e ao mesmo tempo busca as benesses da religião institucionalizada.
Não sei se você percebeu, mas já temos uma classe correspondente. Comumente, vemos pastores que são queridos e respeitados pelo cristianismo (que não é o mesmo que igreja), mas sutilmente, se esbaldam nos benefícios do ministério (luxo, carros, viagens, holofotes, status…).
Religiosos…
Atualizando para os nossos dias, os religiosos são representados pelo mercado cristão. O mercado é quem paga os Judas para que o legado de Cristo seja visto como algo banal. Prender, calar e humilhar Jesus, nos dias de hoje, é a tentativa de deturpar o conceito de Fé Cristã.
Role o dedo em qualquer plataforma digital e comprove o que digo, lógico, se você estiver pronto para isso. O mercado cristão é lucrativo para os artistas e um santo entretenimento para as almas doentes.
Retornando à distinção entre a pregação e as releituras…
A corrida da igreja teve o seu início após a morte de Estevão. Houve uma terrível perseguição e as condições dos irmãos não eram as melhores. Era comum as comunidades mais estabilizadas ajudarem a manter um missionário em regiões mais carentes. No entanto, os espertalhões de hoje lêem o texto bíblico e defendem o ministério de carreira, o profissional. Disfarçam alegando ser uma vocação, um chamado divino, mas essencialmente, é mais um indivíduo sustentado às custas dos trabalhadores. Enquanto nas escrituras, o maior é o menor, ou seja, aquele que, em terras remotas, vivia do básico para servir aos demais, o pastor de hoje tem empresas, é a estrela da casa, ostenta uma vida luxuosa e toma para si a adoração que pertence a Cristo. Ficou clara a distinção?
Você sabe qual é a diferença entre pregar a bíblia e usar a bíblia em uma pregação?
Vamos refletir a respeito?
Multidão.
Não é novidade para ninguém que o Brasil é um país cristianizado e que está saturado de evangelho. Você ainda acredita em evangelização no Brasil?
O que há no Brasil não é evangelismo; o que temos, chama-se: “Proselitismo Institucional”. E quem está imerso nesse oceano, não percebe que as pregações ministradas nesses espaços são algemas de consciências; o indivíduo acredita piamente que está adorando ao Criador de sua alma, sendo que na verdade, está prostrado diante de uma versão de Cristo. Nunca se perguntou o porquê que o cristo pregado é tão parecido com o “pastor”? Cada casa tem um pastor presidente e cada presidente tem um jesus diferente. Se o teu sistema tem um pastor, é porque você gostou do jesus dele, logo, a tua vida não está em Cristo, e sim em uma entidade personalizada.
Baseado em fatos reais…
Há uma seita evangélica bastante sagaz que em seu cânon doutrinário existem três grandes alicerces: 1) a Pregação Alegórica (revelação) - ela serve para o dono torcer a palavra livremente e se alguém questionar, é só dizer que ninguém pode ir contra a revelação do senhor. 2) a Igreja Corpo de Cristo - embora o conceito esteja na bíblia, esse princípio é usado como um meio de manter o trabalho voluntário (enriquecimento do sistema), em outras palavras, cada membro tem a sua função; todos são iguais (medíocres) e o cabeça, que no caso seria Cristo, na verdade, é o dono quem dita as regras 3) e a Teologia do Medo - esse laço é um grande clássico; muitos outros movimentos o usam porque toda alma enferma tem medo da solidão, do sofrimento e do inferno. Se o sistema religioso trabalha com a obediência cega, questionar é condenável; se por acaso o adepto faltar nos cultos para cuidar de sua família, pode perder o arrebatamento e se o alienado não respeitar os usos e costumes da seita, o chefão pode o amaldiçoar por meio de suas "profetadas". Entendeu a diferença entre a pregação da bíblia e o uso da bíblia? O sistema, seja ele qual for, força o texto a endossar o seu esquema doutrinário.
Eu vou encerrar por aqui, já falei demais. Quero acreditar que você não seja um Judas, que o culto entregue por você ao Criador não esteja contaminado pela sujeira desse sistema imundo. Minha oração ao Eterno é que possamos a cada dia, buscar a desintoxicação da alma, almejar um relacionamento real e vívido com o Salvador de nossas vidas. Que Deus nos abençoe!
Por Daniel Santos
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