CATIVEIRO AOS CATIVOS (Introdução)

Por Daniel Santos



No decorrer de sua história, marcada por lutas para estabelecer a nação de Israel na Terra Prometida, o povo judeu foi exilado de sua terra em muitos momentos, tendo passado por dominações assírias, babilônicas, persas, macedônicas, e romanas. Como dizem Silva e Oliveira (2017), “Se juntarmos todos os exílios ao longo da História Hebraica, perceberemos que os mesmos viveram mais tempo fora do que dentro da Terra, foram quase 2000 anos.”


SILVA, Saulo Henrique Justiniano; OLIVEIRA, Flávio Rodrigues de. História da Igreja I. Graduação – EAD. Maringá – PR: Unicesumar, 2017. (Adaptado).


Por mais que as realidades da expatriação e da perseguição sejam faces muito tristes da trajetória do povo judeu, pode-se afirmar que essas tribulações representam uma parte importante de sua identidade, um testamento à resiliência do povo escolhido por Deus diante do sofrimento. 

 

  

A ORIGEM DO CATIVEIRO ASSÍRIO

Então disse Isaías a Ezequias: Ouve a palavra do Senhor.

Eis que vêm dias em que tudo quanto houver em tua casa, e o que entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado a babilônia; não ficará coisa alguma, disse o SENHOR.

E ainda até de teus filhos, que procederem de ti, e que tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no paço do rei da babilônia. Então disse Ezequias a Isaías: Boa é a palavra do Senhor que disseste. Disse mais: E não haverá, pois, em meus dias paz e verdade?

2 Reis 20:16-19 (ACF)

 

Paz e verdade não eram o que a nação santa iria provar nos seus próximos anos. Pelo que constatamos nas sagradas escrituras, o Cativeiro Babilônico decorreu de um antigo e turvo relacionamento do povo de Deus com os habitantes do canto noroeste do Crescente Fértil. E antes de adentrarmos à esta intrigante experiência, é crucial que abramos as cortinas do tempo e exploramos inicialmente o pano de fundo que moldou e ao mesmo tempo deu suporte a este tão importante marco. Podemos iniciar com a seguinte pergunta: quem são os Assírios? SCHULTZ (2009, p. 82) nos informa que: "a verdadeira história da Assíria têm seus começos aproximadamente no ano 1100 a. C.; com o reinado de Tiglate-Pileser I (1114-1076 a. C.).


E com os anais próprios, estendeu o poder de sua nação para o oeste no mar Mediterrâneo, dominando as nações menores e fracas existentes naquela zona. Não obstante, durante os seguintes dois séculos o poderio assírio retrocede, enquanto que Israel, sob Davi e Salomão, surge como um poder dominante no Crescente Fértil". E com a divisão do reino (945 a. C.) Jeroboão é proclamado rei de Israel, dando origem ao “reino do norte” (1 Rs. 12,20) e Roboão como rei de Judá (“Reino do Sul”). Ao caracterizar o relacionamento do povo de Deus com os assírios de antigo e turvo, referia-me ao que Pul (Tiglate-Pileser), rei da Assíria fez com Menaén, rei de Israel  (2 Reis 15,19); com Acaz, rei de Judá (2 Reis 16,7) e com Oséias, rei de Israel nos dias de Salmaneser (2 Reis 17,3). Ao ocupar a posição de vassalo, os filhos de Jacó estavam passando por mais um dos inúmeros métodos pedagógicos do seu Deus. 


Certo dia O Mestre disse: “Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá” (Mt. 12:25). E foi justamente o que aconteceu com o "Reino de Israel", por volta do ano 722 a. Com relação a esta dominação assíria, HARRISON (1980, p. 52) disse: "Deus agora se dirige às dez tribos que Sargão II levou para a Assíria, informando-as que elas deveriam se arrepender no exílio, sabendo que um Deus misericordioso e difícil de irar não se desagradará com esta atitude. Deus diz a Israel que se ela voltasse ao relacionamento da aliança em breve poderia retornar à sua pátria, mas não há nenhuma evidência de que alguém levou isto a sério".

 

Diante de toda essa turbulência, Judá continuou em sua jornada oscilante; entre a idolatria e os breves picos de reforma os monarcas titubeavam diante a pura e santa vontade de Deus. As boas tentativas podem ser vistas em Asa (1 Rs. 15,12), Jeosafá (1 Rs. 22,46-49), Joás (2 Rs. 12,6-18), Ezequias (2 Rs. 18,5) e Josias (2 Rs. 22,3-7). Tentativas estas, que não foram suficientes para libertar de uma vez por todas as suas vidas da idolatria.

No ano 609 a. C., após o seu breve reinado (três meses), Joacaz (2 Cr 36,1-4) é levado cativo ao Egito pelo Faraó Neco, cumprindo o que fora dito pelo profeta Jeremias (22.11-12). E em 608 a. C. Neco (Faraó) elege Jeoaquim (Eliaquim) como rei, e por onze anos reina em Judá (2 Reis 23,36) debaixo de fortes tributos (2 Rs. 23.35).

 

De forma sucinta GUSSO (2007, p.108-109) expõe as três principais deportações:

 

A primeira deportação se deu no terceiro ano do reinado de Jeoaquim (Daniel 1,1) em 605 a. C.

Como Jeoaquim já era um vassalo do Egito e Nabucodonosor era “o senhor da ocasião”, Jeoaquim serve por três anos o rei assírio. No entanto parte dos utensílios da casa do Senhor, príncipes e sábios (Daniel, Sadraque, Mesaque, Abednego…) são levados cativos (2 Reis 24,1).

 

Na segunda deportação (597 a. C.), com Jeoaquim morto, é seu filho Joaquim que se rende a Nabucodonosor. Joaquim é levado preso a Babilônia com sua mãe, seus servos, príncipes e oficiais. Nabucodonosor também saqueou os tesouros da casa do Senhor, levando consigo todos os vasos de ouro e como sucessor de Joaquim, levanta Matanias (Zedequias). 2 Reis 24, 8-17 (ACF).

 

A terceira deportação foi extremamente assoladora; Zedequias veio a rebelar-se contra o rei assírio e as consequências não foram tão brandas. Em 586 a. C. Nabucodonosor destrói Jerusalém completamente, Zedequias assiste a morte de seus filhos e depois de seus olhos vazados é levado cativo, onde termina os seus dias. 2 Reis 24, 18-25; Jeremias 39,6-8 (ACF).

De acordo com ANDRADE (1987, p. 29) "O castigo de Jerusalém foi indescritível. Os exércitos de Nabucodonosor caíram como gafanhotos sobre a cidade do Grande Rei. Destruíram seus palácios, derribaram seus muros e deitaram por terra o Santo Templo. O lugar mais santo e mais reverenciado pelos hebreus não mais existia. O mais suntuoso monumento do Médio Oriente não passava, agora, de um monturo. Os judeus, doravante, andariam errante, por 70 anos em uma terra estrangeira e idolatria. O exílio, contudo, seria assaz benéfico à progênie de Abraão, que não mais curvar-se-ia ante os falsos deuses".

 

 

REFERÊNCIAS:

SCHULTZ, Schultz J. História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida Nova, 2009, p. 82.

 HARRISON, Roland Kenneth. Jeremias e Lamentações: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 52.

GUSSO, Antonio Renato. Panorama Histórico de Israel: Para Estudantes da Bíblia. Curitiba/PR:  A. D. Santos,  2007, p.108-109.

ANDRADE, Claudionor Correa. Geografia Bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 1987, p. 29.

ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia, Antigo e Novo Testamento: Edição Revista e Corrigida. Santo André – SP: Editora Central Gospel, 2009.

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