A FÉ SEM CRENDICES
Atos dos Apóstolos: 19.9
Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano.
Essa ideia de encaixar O Caminho dentro de um sistema religioso não é nova. Israel, por muitos anos, sofreu por entender que a sua instituição era a vontade última de Deus; o seu erro foi, e continua sendo, pensar que ao fazer isso ou aquilo garante a aprovação de Deus. Não entenderam que a lei e os princípios são requisitos básicos de um ser humano. O Senhor, portanto, nunca quis uma obediência cega.
Deus sempre trabalhou na transformação de um povo (a partir do indivíduo) para que Ele pudesse se relacionar, e por meio desse povo, alcançar toda a humanidade, uma espécie de "revelação pessoal". Se o tabernáculo, o templo ou os ministérios tivessem tanta relevância assim, o tabernáculo não seria de material perecível; Deus teria preservado o templo nas invasões e O Senhor jamais levantaria profetas fora do sistema para corrigir o próprio sistema.
E nós?
Mesmo com a revelação do Verbo encarnado, estamos, ainda hoje, padecendo da mesma letargia.
Se nós nos despirmos das releituras e das interpretações do mercado religioso, veremos que a fé cristã nunca se deu bem com as organizações religiosas. Veja, por que nós buscamos pertencer a um movimento religioso?
Geralmente, é esperando que os deuses dos sistemas (com o nome de Jesus) suprem a nossa carência, uns são pelo dinheiro, curas, matrimônios, destaque social, promoção pessoal e outros, para viver às custas dos ingênuos (com o título de pastor). Embora se classifiquem como os melhores crentes da terra, os que exercem o ministério voluntário, o exercem apenas para se aliviarem de suas crises existenciais. Dificilmente optam para viver uma vida íntegra, dedicada ao outro. Na verdade, o outro para ser considerado “o próximo” deve ser da mesma instituição ou ao menos demonstrar interesse em patrocinar (com dinheiro ou serviços) o sistema. Assim como os profetas, Cristo, os seus discípulo e os fiéis de hoje não tiveram e nunca terão espaço no sistema religioso.
Outro ponto que quero destacar é a questão do misticismo. O negócio ficou tão difícil, que para segurar os adeptos, implantaram a consagração de templos. A ideia é a seguinte: não há salvação, comunhão e santificação fora do templo, ou seja, até hoje às falácias da idade média são reverenciadas. Será que o objetivo da reforma protestante foi puro, eles mudaram o quadro?
A sacralização de ambientes, rótulos e gurus é frívola porque o próprio:
Paulo instalou sua sede de ensino na escola de um homem chamado Tirano. Ensinava nessa escola, diz Lucas: “Diariamente.” Existem certos manuscritos (texto Ocidental) que acrescentam o seguinte: desde a hora quinta até a décima. Se essa fosse a leitura original, como provavelmente era, indicaria algo muito interessante que ao mesmo tempo mostraria a dedicação do apóstolo e a realidade com a qual ele atuava em seu trabalho missionário. O período desde a quinta hora à décima hora corresponde, em nossa maneira de contar as horas do dia, ao período que vai das 11h às 16h. Tempo para o descanso nas cidades de Jonia, onde Éfeso estava localizada, como em muitos outros lugares do mundo mediterrâneo. Quer dizer que Paulo utilizava a escola de Tirano em períodos quando esta não desenvolvia outra atividade. Ele se dispôs a alugar um lugar no qual alguém ensinava algo sem nenhuma relação com o evangelho (VELOSO, 2010, p. 231).
É verdade que as comunidades cristãs não são tão exclusivistas e místicas como as seitas evangélicas. Elas não têm donos, mas ainda pertencem ao mercado; são pragmáticas, triunfalistas e têm a saúde do sistema como prioridade. É melhor esconder o pecado e perder um membro de caráter do que pôr em risco a reputação da comunidade.
Paulo pregava a comunhão dos irmãos, é verdade. Por outro lado, não se prostituía para ser aceito por comunidades avessas aos bons modos.
E você, ainda finge demência para não enfrentar o sistema ou tem buscado uma vida não fingida diante de Deus?
O nosso Senhor disse por diversas vezes que não seria fácil.
O meu clamor aos céus é que Deus possa acordar o seu povo, a fim de que percebam a sua miséria e possam retornar à simplicidade do evangelho. Sabendo que, o pecado não está na reunião, e sim na sua instrumentalidade.
Referências
VELOSO, Mario. Atos: contando a história da igreja apostólica. tradução Lucinda dos Reis Oliveira. – Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, p. 231, 2010.
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